1.6.20

Batman: Amaldiçoado


Batman: Amaldiçoado foi o primeiro lançamento do selo DC Black Label. Era para ter sido bimestral, mas sofreu bastante com atrasos: entre a primeira e a segunda edição, passaram-se quatro meses; da segunda pra terceira, outros seis. Novo fruto da consagrada parceria entre Brian Azzarello (roteiro) e Lee Bermejo (arte), foi pensada como uma sequência para a graphic novel Coringa (2008), da mesma dupla criativa. Não é indispensável ter lido Coringa para ler Amaldiçoado, mas ajuda, já que a atual começa exatamente onde a anterior terminava. O direcionamento, porém, é completamente diferente: enquanto aquela era, essencialmente, uma história de gângster, esta tem foco no sobrenatural.

Houve uma polêmica estéril sobre a exibição do pênis de Bruce Wayne em um quadrinho, que acabou escurecido para escondê-lo - decisão totalmente estapafúrdia para um título orientado a maiores de 18 anos. Meu "desconfiômetro" já se liga automaticamente quando uma coisa tão pequena (nenhuma ironia anatômica aqui) ocupa o lugar de comentários sobre a qualidade da história - e, embora seja exagerado classificar Amaldiçoado como um gibi ruim, ele tampouco atinge qualquer patamar especial de qualidade. A gente lê e se entretém porque ama o Batman e, falando muito francamente, a régua da qualidade anda meio baixa na DC como um todo. Não deixa de ser decepcionante, porém, que um lançamento do Batman seja inferior a outro, por exemplo, da Arlequina (Harleen).


Na história, o Batman acorda numa ambulância, com o abdômen perfurado a faca, após a queda da ponte ao final de Coringa ter matado o vilão. O herói, porém, não se lembra do que aconteceu. Após fugir, ele se vê atormentado por visões da bruxa Magia, aquela do Esquadrão Suicida. Aparentemente, Magia está cobrando por um pacto que o Batman teria feito com ela, mas do qual ele não se recorda. Apesar da morte do Coringa, Gotham City mergulha em um caos ainda mais profundo, enquanto o desorientado Batman procura ajuda entre a comunidade mística: Amaldiçoado tem participações de John Constantine, Zatanna, Etrigan, Desafiador, Monstro do Pântano e Espectro.

Como se vê, daí poderia ter saído uma história legal. O roteiro de Brian Azzarello, entretanto, não é nada fácil de digerir, cheio de situações confusas e algumas simplesmente ultrajantes, como um Bruce ainda criança apontando um revólver para a mãe, enquanto o pai mantém um caso extraconjugal. Em dado momento, possuído por Magia, Batman estrangula um adversário. Deve ser engraçado e/ou revoltante ouvir a definição de "humanização do personagem" da boca de autores que concebem determinados absurdos - e, no finzinho, ainda cria-se ponte (indesejada, diga-se) com outro clássico do Morcego.


A patacoada de Azzarello só não custa mais caro ao leitor porque Lee Bermejo está, mais uma vez, voando baixo. Além de desenhar a versão mais realista e funcional que existe do uniforme do Batman (ainda que pareça pesar um bocado, com todo aquele couro, metal e enchimentos), Bermejo faz páginas inteiras e duplas de cair o queixo. Nenhum grama do peso da qualidade oscilante de Amaldiçoado pode ser colocado sobre os ombros do artista.


Parece pouco provável que Amaldiçoado atinja o status que almeja, de neoclássico e interlúdio entre dois momentos bem mais felizes dos quadrinhos do Batman. Infelizmente, hoje em dia, muitos roteiristas na DC já começam a escrever com a mente em histórias "visionárias", cheias de uma grandiosidade besta. É uma pena que Azzarello, que já escreveu algumas boas histórias para o Batman, tenha caído nessa armadilha. Talvez seja severo demais vaticinar algo assim tão cedo, mas Amaldiçoado parece fadado ao esquecimento. Para o leitor, uma decepção bonita de folhear e só. Para a DC, um lembrete de que não há luxo gráfico ou "adultismo" que compense a falta de uma boa história.


* * * * *


BATMAN: AMALDIÇOADO
Brian Azzarello (roteiro), Lee Bermejo (arte)
DC Black Label/Panini - 176 páginas - R$ 62,00 (preço sugerido)

2 comentários:

  1. Quando uma história do Batman perde pra Arlequina significa que o morcego não está em dias melhores. Pelos desenhos talvez eu compre.

    ResponderExcluir
  2. Os desenhos são ótimos, mas a história deixa a desejar, infelizmente. O Morcego já viveu dias melhores, mas sempre tem material que vale a pena saindo.

    ResponderExcluir