Por muito tempo, a Disney não sabia o que fazer com o filme - se insistia em lançar nos cinemas, lançava direto no Disney+, ou jogava tudo no lixo. Quando o martelo foi batido em favor da exibição em tela grande, chegou a pandemia e jogou água no chopp do Mickey. A fé da Disney no potencial de bilheteria do filme (fé que ela negou ao live action de Mulan, por exemplo, que foi direto pro streaming) dava pistas de que talvez ele fosse bem bom, afinal. O último da quase interminável sequência de adiamentos foi para 28 de agosto passado. Aí, Os Novos Mutantes chegou ao cinema e...
É um trabalho ingrato, o de chutar cachorro morto, mas a gente deveria ter desconfiado. Não me entenda mal, eu não sou alguém que está sempre com a régua de expectativas baixa por medo da decepção - e olha que faz pouco mais de um ano que eu assisti àquela atrocidade chamada X-Men: Fênix Negra. O benefício da dúvida é algo que eu distribuo sem muita exigência. O primeiro clip extraído do filme, aquele com os minutos iniciais, em que a aldeia de Danielle Moonstar é atacada pelo Urso Demônio, mantinha acesa minha esperança de uma diversão passável, no mínimo.
O filme, porém, foi massacrado pela crítica, e o público americano que se aventurou a vê-lo não bastou para cobrir o modesto orçamento, que oscilou entre 67 e 80 milhões de dólares. O baixo custo provavelmente explica a qualidade capenga dos efeitos especiais - em diversos momentos, a gente parece estar vendo um filme do começo dos anos 2000, daqueles fuleiros.
Não vou nem entrar no mérito de por que uma teleportadora interdimensional, como Magia (retratada como uma rebelde incorrigível), simplesmente não se manda dali e aceita que "é pro seu bem". Ou por que uma estrutura daquele tamanho tem apenas cinco pacientes e uma médica. Se for pra gastar tempo até pintarem umas cenas de ação decentes ou um drama que valha a pena acompanhar, a gente compra ideias ainda piores, numa boa.
Mas a coisa mais próxima de uma história humana genuína que a gente vê é o interesse de Rahne por Dani, mas mesmo isso é desenvolvido de maneira pobre. Os traumas dos demais ganham lampejos que deveriam ser aterrorizantes, mas só provocam bocejos, demérito da absoluta ruindade dos diálogos e da inabilidade do diretor.
Os atores fazem o que podem com seus personagens, mesmo tão desvirtuados e com tão pouco desenvolvimento. Dá para cravar Anya Taylor-Joy e Maisie Williams como destaques, mas todo mundo está OK e nada mais, e tudo que havia para ser dito sobre o white-washing envolvendo os brasileiros Alice Braga e Henry Zaga já foi dito por gente mais entendida que eu. A identidade do chefe de Cecília Reyes é uma boa sacada, mas o roteiro não sabe o que fazer com isso, ou com os assassinos sem rosto que perseguem Magia, ou com qualquer outro suposto "mistério" que levanta.
"Mas, afinal, tem uma luta com o Urso?"
Tem, sim, mas é neste momento que a tosqueira atinge níveis abissais, com ação confusa e soluções dramáticas vergonhosas, lembrando X-Men: Fênix Negra, dirigido por Simon Kinberg, que (veja só!) produziu Os Novos Mutantes. Percebe um padrão sendo formado aqui?
Ainda bem que não paguei pra ver isso no cinema. Obrigado, coronavírus!
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