26.10.20

Dunkirk


Admito que foi por pura estupidez que não assisti a Dunkirk antes. Sou fã do cinema de Christopher Nolan e, normalmente, gosto de filmes de guerra, mas, sei lá por quê, passei três anos armado de expectativas negativas sobre este. Botei na cabeça que devia ser um filme bonito, porém, longo e chato.

De fato, Dunkirk é um filme muito bonito. Conforme esperado, Nolan continua um mestre no uso de câmeras IMAX, capturando planos de cair o queixo, com composições visuais caprichadíssimas. As batalhas aéreas e navais são um primor de realismo e a trilha sonora de Hans Zimmer eleva a tensão a níveis quase insuportáveis. Entre os atores, dois favoritos de Nolan, Tom Hardy e Cillian Murphy, além de Kenneth Brannagh, Mark Rylance e um surpreendente Harry Styles.

Não é, porém, um filme longo demais, com razoáveis 106 minutos de projeção, nos quais somos totalmente envolvidos pela maestria técnica e pela tensão do episódio real, ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, quando cerca de 400 mil soldados, entre ingleses e franceses, acuados pelos alemães, aguardavam resgate na costa francesa do Canal da Mancha. O governo inglês esperava ser capaz de resgatar cerca de 30 mil soldados, mas um pedido de ajuda a embarcações civis possibilitou o salvamento de mais de 300 mil.


Os diálogos econômicos ajudaram a prevenir uma falha sempre atribuída aos roteiros de Christopher Nolan: o excesso de didatismo - até porque não havia muito o que explicar. Eram milhares de pessoas acuadas e desesperadas, e nossa empatia não vem de histórias pessoais ou flashbacks narrativos. Está tudo ali, na nossa frente, e tudo que nos interessa (e nos põe nos cascos de aflição) é saber se eles (e quantos deles) vão conseguir sobreviver à situação.

Sim, existe o soldado traumatizado que provoca uma pequena tragédia num barco civil, o soldado caladão que gera suspeita em seu grupo, e o aviador que vê sua esquadrilha ser abatida, mas nenhuma subtrama toma muito espaço do esforço de salvamento. A sobrevivência é o mote.

Em vez de chato, como eu temia, Dunkirk revelou-se um dos melhores filmes de seu cineasta, tendo conquistado oito indicações ao Oscar (incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor) em 2018, levando três prêmios técnicos. Pego-me, agora, lamentando não ter vivido a experiência de assisti-lo no cinema, com tela grande e som envolvente. Dunkirk é um triunfo da vida e da arte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário