6.9.20

Batman: Universo


Quando ainda escrevia suas fantásticas histórias com o Demolidor e ninguém sequer cogitava que ele pudesse um dia deixar a Marvel, o roteirista Brian Michael Bendis era o sonho molhado secreto de todo leitor do Batman - meu, inclusive. Quando ele assinou com a DC, em 2017, parecia que o sonho se tornaria realidade. Bendis, porém, preferiu começar escrevendo Superman e Action Comics.

Em 2019, quando anunciou-se que Tom King deixaria a revista principal do Batman mais cedo (prevista para durar até a edição 100, sua passagem foi abreviada para terminar na edição 85), nova expectativa e nova frustração: em vez de Bendis, James Tynion IV foi colocado no posto de King.

Os fãs do Batman, porém, receberam um presente inesperado: embora não fosse assumir um título regular, Brian Michael Bendis foi escalado para uma minissérie do personagem, em seis edições. Será que, finalmente, os fãs teriam de volta o detetive ninja envolto em drama e mistério que aprenderam a amar? Porque, sabe, muita gente (e me inclua nessa) já está cansada de só ver o Batman investigar a si mesmo e ficar enfrentando inimigos "terríveis" - uma mulher que não quis casar com ele, por exemplo.


Batman: Universo foi anunciada pela Panini para sair completa, em encadernado. De capa cartão, custando vinte e poucos reais? Claro que não! Da mesma maneira vil que fez com o especial da Detective Comics nº 1.000, a editora meteu capa dura e pediu R$ 64. Esgotada uma primeira leva de pré-vendas a preço cheio, a Amazon baixou o encadernado para justos R$ 24. Aí, eu comprei. Para você, que se precipitou em comprar caro, mostrando que a Panini está certa em arrancar de você o máximo de dinheiro que consegue, minha sonora gargalhada.

Quem esperava ler algo na linha "Demolidor em Gotham City" se deu mal, em termos. Bendis escreve um Batman falastrão, até bem-humorado. Em vez de uma história noir pé-no-chão, como provavelmente queria boa parte dos leitores, temos uma história que começa policialesca (com um plano do Charada repleto de enigmas fuleiros para roubar um ovo Fabergé), mas acaba envolvendo um punhado de outras figuras ilustres do Universo DC, ganhando complexidade e ares de ficção científica.

Repleta de pirações "do bem", esta história é um tapa na cara de escritores (cof, cof, cof) "visionários" que acham que alguém, em sã consciência, desejaria ver um multiverso inteiro de versões estúpidas e espalhafatosas do Batman, quando tudo que a gente pede é uma história contada de maneira decente, que respeite o personagem e seus princípios fundamentais. Bendis prova que entende o Batman e que estamos certos em desejar reuní-los.


A eficácia do texto enxuto de Bendis dificilmente seria a mesma, porém, sem um artista do nível de Nick Derington. Com auxílio das cores de Dave Stewart, Derington entrega algumas páginas simplesmente espetaculares, carregadas de dinamismo e com cenários arrebatadores. Em sua arte, é possível identificar ecos de gente como Frank Quitely, Paul Pope e Matt Wagner.

Com James Tynion IV sendo elogiado pelos rumos que deu a Batman, e Peter J. Tomasi fazendo delicioso feijão-com-arroz em Detective Comics, fica difícil prever quando Bendis poderá assumir uma revista regular do Morcego. Mesmo que a gente ainda não possa se fartar, não há como negar que este belo "tira-gosto" chamado Batman: Universo deixa a gente salivando por mais.

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