5.3.19

Trillium


Jeff Lemire é um roteirista que, se não é uma unanimidade, sempre suscita, no mínimo, alguma curiosidade a cada novo trabalho. Ainda que seus esforços possam dividir opiniões, ninguém há de negar que ele é prolífico e tem boas ideias - vide Black Hammer, o gibi de super-heróis mais contemplativo da atualidade, mas cuja leitura é um desafio à vontade de fazer qualquer outra coisa.

Trillium é uma minissérie de ficção científica em 8 partes, escrita por Lemire para a Vertigo. Lançada entre outubro de 2013 e junho de 2014, nos EUA, a história mistura conceitos de distopia espacial e viagem no tempo, com ilustrações do próprio autor - arte esta que divide opiniões ainda mais do que sua escrita.

No ano 3797, a humanidade está reduzida a uns poucos milhares de pessoas, em colônias espaço afora, fugindo de um vírus letal chamado A Coifa. A esperança de sobrevivência reside na criação de uma vacina a partir de uma flor chamada Trillium. A Dra. Nika Temsmith é uma xenobotânica encarregada de estabelecer contato com uma civilização, em cujos limites murados se encontra Trillium suficiente para salvar nossa espécie. As dificuldades de comunicação, porém, parecem contribuir para um inevitável fim da humanidade.

Paralelamente, na Terra, em 1921, William Pike, um ex-soldado britânico traumatizado pelos horrores da Primeira Guerra Mundial, aceita participar de uma expedição da coroa inglesa às selvas peruanas. Seu objetivo é encontrar um "templo perdido dos incas", no qual espera haver tesouros e segredos capazes de mudar o rumo da ciência - e, quem sabe, dar um novo sentido à sua vida. As coisas dão muito errado para o grupo de exploração e William se vê sozinho na selva, acuado e perplexo diante de fenômenos para os quais não consegue ver explicação.

Por mais improvável que pareça, esses dois personagens acabam tendo seus destinos entrelaçados. Nika e William acabam descobrindo que sua contínua aproximação pode comprometer toda a realidade à sua volta - e que nem mesmo isso pode impedi-los de ficarem juntos.


Trata-se de uma bonita ficção científica, com elementos de love story, existencialismo, antimilitarismo e anomalias espaço-temporais. O traço de Lemire (colorização de José Villarrubia) pode ser discutível - talvez lembrando aquele seu amigo ou parente que é mais esforçado do que competente - mas carrega em si uma delicadeza meio esquisita, decadente, que serve muito bem à história. Estamos falando, afinal, de um período de guerra e do virtual fim dos tempos.


Indicada ao Eisner em 2014, Trillium consagra-se como um dos melhores títulos da Vertigo pós-Karen Berger e um dos melhores lançamentos da Panini em 2018 - não apenas pela qualidade da obra em si, quanto pelo formato escolhido: um encadernado em capa cartão, com 200 páginas a bom preço (R$ 29,90), num tempo em que nossas compras na banca ficam cada vez mais leves na sacola e pesadas no bolso.

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TRILLIUM
Jeff Lemire
Vertigo/Panini

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