Às vezes, a gente se anima todo porque sabe que tem uma festa grande chegando. Em sua empolgação, você compra roupa nova, pega "pista prime" ou coisa do tipo, enfia umas camisinhas no bolso e, quando chega a grande noite, animadaço, sai pra tal "mãe de todas as baladas".
Chegando lá, porém, a música tá uma merda, a cerveja tá quente, o banheiro tá imundo e as pessoas que você conhece te dão mais vontade de agredir do que de transar. Desconsolado, você vai pra casa sozinho, põe as camisinhas de volta na gaveta e solta um sonoro peido ao se deitar. A traição, a perfídia!
É mais ou menos esta a sensação de ler Batman 80 Anos - Detective Comics Especial. A ocasião era propícia para uma grande celebração: a milésima edição de Detective Comics, primeira "casa" do Batman. Todos os artistas e escritores convidados já deram seu quinhão de contribuição para o mito do Homem-Morcego, mas, virada a última página, a gente tem a sensação de que o cheque da organização ainda não tinha compensado e todo mundo trabalhou de má vontade.
Tudo bem, eu sei que sou um homem beirando meio século de vida, ainda tentando me divertir com um tipo de lazer direcionado a gente com um terço da minha idade. Tudo isso podia ser apenas queixume de um velho ranheta, mas o que acontece é o seguinte: eu sei quando estou diante de uma boa história e sei quando não estou.
Lançado pela Panini em dezembro de 2019, o especial tem 13 histórias inéditas, mais a republicação da primeira história do personagem, de 1939. Entre as duplas criativas, temos Peter Tomasi e Doug Mahnke, Denny O'Neil e Steve Epting, Scott Snyder e Greg Capullo, Warren Ellis e Becky Cloonan, Brian Bendis e Alex Maleev. Como se vê, falta de talento era o menor dos problemas.
O que faltou foi inspiração, mesmo. Com poucas exceções, as histórias se dedicam a remoer sobre as motivações e os traumas do Batman, exaltando sua obstinação e questionando sua sanidade, de modos que já vimos muitas vezes antes e melhor. Muitas vão do nada a coisa alguma. Algumas são bem-boladas e conseguem divertir, como a do Warren Ellis e a do Paul Dini, mas, mesmo elas são apenas boas, não ótimas. Bendis chove no molhado com papinho de "eu já sabia", mas o finalzinho é legal. Geoff Johns e Scott Snyder são apenas constrangedores.
Pelo menos, pra compensar, tem uma cacetada de capas variantes legais, mas, é só. Nenhum editorial sobre o personagem ou a publicação em si, nenhum prefácio ou posfácio de alguém importante. NADA.
A gente sabe, a gente entende: os últimos anos têm sido turbulentos na DC, com uma interminável "dança das cadeiras" no comando, mudanças de direcionamento e até de endereço. Lembre-se que a atual dona da Warner - e, por tabela, da DC - é um conglomerado de comunicações, a AT&T. Eles estão longe de saberem o que fazer com quadrinhos. Até que percebam que tratar a editora apenas como um negócio e não como (também) um ambiente que favoreça a criatividade, ainda veremos muita mediocridade chegar ao papel.
Não foi diferente quando da edição 1.000 de Action Comics, com o Superman. A diferença é que, naquela ocasião, a Panini não fez parecer que a festa seria muito melhor do que realmente foi: o especial de 80 anos do Super saiu em capa cartão e preço honesto de vinte e pouco reais. Este veio com capa dura, formato maior e beirando os 70 reais. Baseado nas opiniões de amigos que leram as edições originais no lançamento, eu sabia que não valia tanto. Na verdade, não valia nem os 50 reais que ficou custando na Amazon um ano inteiro. Quando pude comprá-la por 30, aí sim, achei que não ia me sentir tão lesado.
Já tem outra "festa" se aproximando: a edição 1.039 de Detective Comics marca a milésima aparição do Batman na revista. Imagino, porém, que esta deve ficar restrita às paginas da inflada e inflacionada mensal do Morcegão (que deixei de acompanhar em dezembro passado). Pura conjectura minha, claro. Na fila dessas "festas" do cada vez mais excludente mercado de quadrinhos brasileiro, eu gasto cada vez menos tempo e dinheiro.
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