
"Triunfo da vontade" é isso aí: Zack Snyder e seus fãs fizeram tanto barulho nos últimos anos, pedindo pelo lançamento do tal "SnyderCut" de Liga da Justiça, que a Warner viu uma chance de capitalizar com o maquiado revival do natimorto filme de 2017 – aquele que ficou famoso por ter sido assumido por Joss Whedon (diretor de dois filmes dos Vingadores), quando Snyder afastou-se da direção, muito por conta do suicício de uma filha.
O mundo até parecia outro em 2017: Whedon havia sido
convocado como uma espécie de "salvador da pátria", já que as primeiras exibições-testes
de Liga da Justiça resultaram em adjetivos como "inassistível". Zack Snyder já
colhia os amargos frutos da desconfiança, quando Batman vs Superman: A Origem
da Justiça fez boa bilheteria, mas foi massacrado pela crítica.
Hoje, Whedon é persona non grata em praticamente toda parte,
por conta das muitas e sérias acusações de assédio moral em várias de suas
produções. Por sua vez, Snyder ressurge gozando dos louros da duvidosa glória de um filme que dificilmente teria sido o mesmo de agora, há quatro anos.
O filme chegou às telas em novembro daquele ano e não houve "salvador" que desse jeito naquela bagunça que, mesmo tendo custado cerca de 300 milhões
de dólares, era confuso, feio e decepcionante numa série de pontos: não tinha
Superman de roupa preta, não tinha Darkseid, mas sobrava céu vermelho e CGI vergonhoso,
parecendo gameplay de um jogo fuleiro. Era abissal a diferença com o que se veria, menos de um ano depois, em Vingadores: Guerra Infinita, um filme em que a
gente enxerga onde foi gasto cada centavo.
Renegando a paternidade daquele monstro desfigurado, Zack
Snyder começou a alimentar o fandom com fotos e notícias sobre os planos que
tinha para Liga da Justiça, caso tivesse tido a chance de concluir o filme.
Mesmo quando ninguém perguntava nada, ele ia lá e plantava uma notinha, botava
uma foto ou sketch da pré-produção. O barulho em torno de uma suposta "versão
do diretor" foi crescendo até o limite do insuportável – ou seja, até o ponto
em que a Warner sacou que a brincadeira poderia render uma grana (tanta grana,
que até justificava o aporte de US$ 50 milhões a mais, para refilmagens e dar
aquele lustro nos efeitos especiais).
Pois bem, o tal #SnyderCut chegou – e, olha, eu odeio ter que
admitir, mas, valeu a pena.
Antes, porém, já vou falar do imenso elefante branco
ameaçando a cristaleira da sala: ainda que seja um filme melhor do que aquele
que chegou aos cinemas há quatro anos, Liga da Justiça de Zack Snyder passa
longe de ser o melhor filme que poderíamos ter com o grupo. Não redime Snyder
da visão equivocada que tem sobre os heróis da DC (que ajudou a alimentar esse
mito imbecil de que o universo da editora é "sombrio") e nem do fato de que ele
é um cineasta limitado e cheio de cacoetes irritantes.
Entenda, ainda, que seria um tremendo abuso da boa vontade
de todos os envolvidos se o filme, com suas quatro horas de duração e orçamento
ampliado, ainda deixasse pontas soltas e não saciasse nossa fome de fan
service. Muitos filmes dão errado todos os anos, claro, mas nem todos eles
ganham uma segunda chance deste porte - nenhum ganha, esta é a verdade. Então, repetindo
as sábias palavras de nossas mães, Snyder "não está fazendo mais do que sua
obrigação".
Dito isto, sim, o filme melhorou. Parabéns, Zack!
Com mais tempo de tela, a história é contada de maneira mais
fluida e coerente, havendo espaço para a introdução de vários personagens e
situações. Uma coisa que agradou, mesmo na versão "errada" do filme, foi a
Mulher-Maravilha (Gal Gadot). Vendo-a em ação aqui, como uma guerreira de
sangue quente, faz a gente lamentar ainda mais o péssimo rumo dado a ela em
MM84 ("Snyder was right", então?). Com menos gracinhas de tiozão, Aquaman
(Jason Momoa) e Batman (Ben Affleck) também melhoraram. A amizade tóxica entre
Flash (Ezra Miller) e Cyborg (Ray Fisher), na qual o primeiro vivia implorando
atenção e tomando patada do segundo, também foi revista, com menos e melhores
piadas. Cyborg tem, ainda, sua origem detalhada em vários momentos, tornando-se
uma peça fundamental na trama. Superman (Henry Cavill) aparece sem o constrangedor
retoque digital que cobria o bigode do seu intérprete e ostentando o aguardado
uniforme negro. De modo geral, as relações e interações entre os personagens
parecem menos artificiais.
Quem mudou muito e para muito melhor foi Steppenwolf (CGI
com voz de Ciarán Hinds). O polimento nos efeitos visuais (a aparência geral do filme melhorou demais!) e um punhado de novas
e ótimas cenas de pancadaria transformaram o vilão em um oponente bem mais digno.
As aparições de Darkseid (voz de Ray Porter) também são legais, ainda que seu envolvimento direto esteja
limitado a flashbacks e flashforwards (sim, o tal "knightmare" do Batman – o pesadelo
de uma realidade em que o Superman se volta contra a humanidade – é revisto e
ampliado, dando alguma graça – não muita, só alguma – ao mais sem-graça Coringa
do cinema, o de Jared Leto).
Nem tudo são flores, porém: a trilha sonora joga contra o filme em diversos momentos, tirando o dinamismo das lutas de Diana com aquele "ãããããããã" de árabe com dor de barriga. O Flash continua esquisito e desconjuntado, porque Ezra Miller, simplesmente, não sabe correr, mas foi escalado para ser um velocista mesmo assim. Outra: que tipo de herói seria aquele que aparece em duas cenas com Lois Lane e Bruce Wayne, sabendo que tudo aquilo estava acontecendo, mas sem se envolver? Além disso, a câmera lenta e o flare habituais continuam sendo vícios que Snyder podia dosar melhor.
Se aqui o crédito extra revelou-se bem investido, a manobra de
revisitar filmes testados e reprovados pode gerar monstros, como o já especulado "AyerCut" de Esquadrão Suicida (um filme francamente ruim, de um cineasta
francamente medíocre), além de prolongar a tendência ao requentamento que se
abate sobre Hollywood já há muito tempo. Dado o sucesso de Liga da Justiça de
Zack Snyder, não parece precipitado prever que isso continue.
E, embora tenha acabado de estrear o "brinquedo novo", Snyder
já está, mais uma vez, inundando a internet com coisas que acabaram de fora,
como a possível presença de John Stewart como Lanterna Verde. Isso mesmo,
amigos. Quatro horas e uns 400 milhões de dólares depois, Snyder ainda esqueceu
de colocar coisas no filme. Alguém compre uma agenda, um bloquinho de post-it
ou um frasco de Fosfosol pra esse sujeito.
Eu achei muito foda essa versão Dragon Ball de 300!!!
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